"Servir" deveria ser o verbo regente da vida humana. O que vemos é a atuação constante do "possuir". É lamentável. Cada vez mais, vejo o modelo de comunidade dos Atos dos Apóstolos sendo distanciado das realidades de nossas comunidades.
Leigos que querem status, poder, domínio. Esqueceram que o Reino de Deus tem predileção no servir e na partilha. São pessoas que se corrompem com testemunho sujo e abominável. Deus não precisa de patrões, a comunidade precisa de servos.
A comunidade família, a comunidade igreja, a comunidade social ... lugares oportunos que Deus criou a fim de que o amor seja instaurado. Não existe milagre mais bonito do que esta sábia consciência.
No entanto, a sujeira é tão grande que até chega a se organizar em cúpulas. Existe sempre o grupo que comanda. Depois, o grupo que é subordinado. E ai daquele que se sentir "injustiçado". Será logo cortado por "atrapalhar" a ordem da tribo.
Relendo o belíssimo Documento de Aparecida, Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizado em maio de 2007, na ocasião da visita do Santo Padre, o Papa Bento XVI, encontro pistas para tal reflexão; caminhos necessários para um tempo novo no servir.
No parágrafo 370, está escrito: "A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária." Este trecho é apenas 1% de uma imensa riqueza existente para nós. Instruções que deveriam ser acolhidas no coração de tantos "leigos e leigas" que insistem em achar que são cárceres do Divino Poder.
Cristão que não entendeu a mística do serviço, não produz frutos de paz.
Vivo e já vivi experiências estupendas em comunidade, mas confesso que as desprezíveis foram as que causaram grande reflexão em mim. E eis algumas perguntas ficaram no ar ...
Por que são, quase sempre, os mesmos pregadores nos encontros de formação da RCC?
Por que as "revelações" do Espírito Santo estão sempre voltadas para um determinado público alvo?
Temos uma "equipe de serviço" ou uma "equipe de patrões"?
Ou os ministérios estão sendo privatizados e eu não sabia?
Gostaria muito que os jovens que passam anos lavando banheiros - não que seja um trabalho desnecessário - tivessem oportunidades para pregar, ministrar e contribuírem para com a evangelização a partir dos dons que possuem.
Nunca vi coordenadores lavando banheiro. Se existem, ótimo, são a minoria. Continuem assim.
Se no Reino todos são iguais, a oportunidade deveria ser regra de convivência.
Numa certa ocasião, fui convidado pelo ex-coordenador Diocesano da RCC, Ricardo, a ocupar o serviço da secretaria Marcos de uma cidade X. Fiquei lisonjeado com o convite e, assim, colocaria em prática a primeira máxima que sustenta a comunidade do povo de Deus: a igualdade. Seria um sonho realizado, a partir do princípio evangélico, vê-los além de bancos e banheiros; vê-los como pregadores, animadores, jovens missionários. Mas nem cheguei a ocupar o ministério e fui perseguido ...
Que o exemplo da Comunidade dos Atos dos Apóstolos esteja além do admirável, mas sobretudo, a partir dos nossos gestos libertários.
O Espírito Santo clama por vez e voz. E, mesmo consciente de que toda formação seja necessária para o crescimento, ainda reafirmo que o Pai do Céu não é atraído por diplomas, mas por corações generosos.
Que a RCC, e tantos outros movimentos, sejam respeitados em sua origem, que é o serviço e o amor.
A igreja será muito mais rica, plena, e missionária quando o clamor do Espírito de Deus for entoado pela boca dos que nunca tiveram vez - campo fértil por onde Deus pode fazer florescer um novo tempo.
Irmãos,
Lugar de cristão é na mesa. Não em panelas!
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