quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

A palavra bem dita.

        Lázaro, resgatado da morte por Jesus de Nazaré, é uma figura sublime diante da palavra bem dita. Nas palavras de Ruth Brandão:

É aquele que vivenciou o silêncio do "para sempre", mas foi chamado de volta à vida e experimentou, no seu corpo, a decomposição da morte e a recomposição da carne, pelo sopro divino; (...) Lázaro tem seu corpo desvestido de vida pela ação da morte e se vê novamente revestido de vida pela voz, pelo sopro divino que o toca e resgata.' (Revista do Centro de Estudo Portugueses - UFMG n.39 Jan.-Jun. 2008). 

A palavra do Mestre fora capaz de ressuscitar Lázaro, o grande amigo de Jesus. A palavra fora capaz de dar um novo despertar, um novo sentido à vida de um homem dado como morto, sepultado e que já apresentava mal cheiro. Bastou um querer, uma pequena frase, um convite lançado para dentro daquele sepulcro, para que o morto voltasse a viver. Jesus amou e escolheu a dedo as palavras de salvação. 
    Fico a pensar no poder das palavras. Na força que elas possuem quando se reúnem para servirem - palavras bem ditas.
     Podemos semear a paz com a palavra do bem, ou maldizermos com a semântica do mal. 
     A escolha está dentro de cada um. 
     Jesus soube usar a palavra ideal para o momento oportuno; a palavra que edifica para devolver à vida aquele que já padecia na mansão do silêncio ...
    Quero a graça da palavra bem dita. Do diálogo que edifica. Da boca que santifica. Da promessa não traída. Da verdade que liberta.
    Senhor, dai-nos a graça de salvarmos vidas com a palavra certeira, terna, sólida, enraizada no amor e na justiça.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Luzes, ceias e sabores.



A alegria e os preparativos para o Natal estão por toda a parte. Luzes coloridas. Pinheiros enfeitados. E guirlandas anunciando a tão esperada comemoração cristã. Os presépios vão sendo retirados das grandes caixas, empoeiradas, que ocupam parte do guarda-roupa da família. Os olhos do avô são acesos pela ideia do vinho que poderá ocupar a mesa na noite da ceia. Com o valor menor do dólar, os produtos chegam com menos custo aos mercados para a felicidade do povo. 

Não são apenas as luzes exteriores que são acesas. Mas as luzes da alma. Em cada gesto, vejo a esperança ser posta, como árvore, dentro do altar da vida humana - não importando se o ano fora mais ou menos trágico, se a dor tomou as rédeas ou se as feridas armaram acampamento no coração - o que sei é que, nesta época do ano, qualquer força é pequena diante da chama ardente de esperança que dança, em labaredas, na alma de crianças, jovens e adultos. 

O que mais me impressiona, minha gente, é a vida que acende as luzes nos quatro cantos do país. É a vida que renasce, como flor miúda, nos avessos dos ricos e também dos pobres.
Enquanto uma criança sonha com uma casa de boneca, a outra sonha com um lar pra viver. Enquanto um jovem sonha com o seu primeiro voo de jato, o outro sonha em voar rumo ao primeiro emprego, tão batalhado. Enquanto aquele pai de família, empresário, procura inventar algo em que possa gastar o décimo terceiro, o pai de família assalariado reza para sobrar alguns trocados, para assim ter o que partilhar na noite de Natal. Esperança que torna-se eco, em resposta ao grito mais alto que o ser humano possa dar: o grito pela sobrevivência. 

Fico a pensar nas casas envoltas de luzes, de promessas e de mesa farta, mas plena de pessoas apagadas interiormente. Mesa rodeada pela família, mas um abismo de longa distância, quando se trata de presença e de amor. 
Mais vale uma mesa simples a ninar pequenos pedaços de pães, testemunha diária dos encontros definitivos e eternizadores entre marido e mulher, pais e filhos, que o assombroso vazio da mesa sufocada entre bandejas fartas, vinhos importados e toalhas requintadas com fios de ouro, que servem apenas para abrigar estranhos entre si mesmos. 
A mesa pode estar repleta de bons alimentos, mas o melhor sabor está dentro de cada um, à espera de poder ser partilhado em comum acordo. Quando o melhor da família estiver posto à mesa, a família saciada estará.

Luzes acesas na casa e na alma. Sonhos redobrados. Presentes postos ao pé do coração do próximo. Lá, eles terão melhor serventia. 
Mesa farta de perdão, de olhar demorado, do Eterno. Corações-manjedouras à espera da vida que acenderá a luz que não se apaga: Cristo Jesus.

Ter a plena certeza: — 'Devagarinho é que o escuro vai ficando claro', como um dia nos ensinou Guimarães, o Rosa.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Suicídios lentos.

Reprodução: Internet.


Optar pela vida é o melhor projeto. 
Hoje, recebi a triste notícia de um suicídio: uma jovem decidiu por fim a própria vida após uma desilusão amorosa. Cancelou uma vida plena de oportunidades; sonhos que agora se acomodarão na lembrança daqueles que ficaram. 
Não a conhecia. Mas, tristemente, sofri quando meu coração tocou o aceno da fatalidade; a desistência brutal pela vida. 
Diante da necessidade de analisar o fato, eu prefiro evitar o perigo da resposta apressada. Uma tragédia que sugere uma interpretação mais profunda. A morte, ainda que seja de alguém que nunca tenha cruzado o nosso caminho, pode nos acordar. 


A morte da moça, a juventude tão cobiçada, os sonhos ancorados, a tragédia e a corda no pescoço.
A decisão pela morte não é acontecimento súbito. Tenho a plena convicção de que essa jovem começou a desistir da vida no momento em que deixou que a corda engrossasse, diariamente, os próprios gomos, e assim, saísse da mão e se enroscasse ao pescoço; tristezas e fracassos não administrados; ausência de si mesmo ... 
Vivemos diante de cordas invisíveis. Vivemos no meio de homens e mulheres, jovens e adultos que colecionam desistências. Pessoas que vão perdendo o sabor pela vida - e a partir do gosto amargo das dificuldades, são atraídas pelo caminho mais fácil, alimentando a desistência de si, o desprezo, e o sentimento mentiroso a culpá-la de fracassadas. Suicídios lentos e adubados. 
Infelizmente, para a jovem não tem mais jeito. O seu enredo foi selado. Mas para nós ainda é tempo. Tempo de observar as cordas que estão ao alcance de nós, e plenos de esperança, retirá-las, desatá-las. 
Que Deus nos dê a graça de percebermos as cordas invisíveis que estão por todos os lados. Talvez dentro da nossa casa a enroscar, de forma silenciosa, no pescoço daqueles que tanto amamos. 
Não espere pela tragédia. Opte por desativá-la. Esteja atento como guarda de si, e também do outro. Não chegue atrasado na vida de quem você tanto ama. 
Estar ao lado não significa estar presente. Talvez a moça que hoje falecera, tenha morrido solitária numa casa rodeada de pessoas 'atrasadas'. Presenças salvam. 
A morte dessa jovem me fez repensar sobre a vida e valor que ela possui. Me deu a graça de compreender que a melhor saída está na opção pela vida. 
Tristezas e depressões não nasceram para ser colecionadas, mas desativadas. 
Senhor, dai-nos a graça do olhar demorado. Deus da Vida, dai-nos a benção da urgência do amor. 
Como um dia escreveu o poeta: "Corda na mão, não no pescoço." Eis a lição. 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Deus cuida até no silêncio.


Quando estamos vivendo dentro de um grande sofrimento, seja ele qual for, logo pensamos em Deus, que é Pai. É uma das formas que encontramos para sentir alívio e, diretamente, auxílio para o fim do que nos faz sofrer.

Como filhos, ainda que rebeldes, corremos para os braços de Deus, como uma criança corre para os braços de sua mãe. Depois da queda, do joelho arranhado, o abraço de mãe cura, aconchega, acalenta. O desespero, antes aceso pela visão da ferida, apaga-se quando a visão encontra, de forma sublime, as luzes a irradiarem-se dos braços estendidos daquela que o gerou.

E no plano espiritual? Não vemos Deus, mas podemos senti-lo. E, teoricamente, é um desafio acreditar naquilo que não pode ser 'visto' a olho nu. Pensar em Deus é um primeiro ato, mas repensá-lo, confiá-lo à nossa dor, pode ser uma tarefa árdua. Somente pelos olhos da fé, definitivamente, pode-se experienciar tal consolo.

Vez em quando, o silêncio de Deus causa desassossego naqueles que esperam por consolo e cura. A pergunta é: - Por que Deus não me socorre?
A resposta pode ser: - Por que você olha depressa demais?

No lugar do desespero, onde faltara vinho naquela festa de casamento, nas bodas de Caná, Maria, a mãe de Jesus, olhou demoradamente para o Filho, antes de promulgar em palavras, o que Ele percebera quando ela o fitou.

Silenciar o coração. Ter os olhos fitos Nele, e o coração atento aos acontecimentos do dia a dia são tarefas que cabem àquele que espera por auxílio. 'Senhor, que eu veja.'

Rodrigo .

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Você pode ser feliz.


A primavera é uma lição bonita de que a vida pode dar certo, ainda que tenhamos passado por dias frios e tenebrosos.

Jesus, o Filho de Deus, passou por grandes provas, sofrimentos, dores que povoaram a sua caminhada, mas fora capaz, de mesmo sendo Deus, se compadecer na condição humana e, assim, esperar o tempo da vitória.

Ainda que a vida seja difícil, ela é o grande bem supremo. Ainda que a dor seja aguda, as estações da vida são mais fortes. Não existe cruz que não aponte para o Céu.

As flores precisam respeitar o tempo. São obedientes ao vento. E, no tempo certo, florescem, revigoram-se e, copiosamente, nos mostram tamanha beleza.

Que a primavera nos ensine: a refletir a beleza que é possível ser contemplada, quando há uma espera perseverante. Cristão sofre, mas não desanima. Cristão ama, espera, confia, trabalha.

Senhor, dai-nos a graça da espera e nos ensine a servir com amor.
Hoje, quem mais precisa ser "primaverado" por você? É tempo das flores. É tempo de confirmamos a nossa vocação para o Amor.

Deus cuida de nós.
Que seja assim.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ser cristão é ser dinâmico.


Uma vida bem vivida é o sonho de Deus para nós. É o Evangelho colocado em prática. É a lei do amor sendo praticada.

Gosto, particularmente, de um texto da escritora Marina Colasanti, que é uma "pregação" real do valor que a vida possui.

Eu sei, mas não devia
Por: Marina Colasanti.

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

domingo, 5 de setembro de 2010

O que você precisa desconstruir?


"Uns aprendem a andar. Outros aprendem a cair. Conforme o chão de um é feito para o futuro e o do outro é rabiscado para sobrevivência." Mia Couto

O que temos aprendido? Quais são os sentimentos que precisam ser desconstruídos na alma?

O texto é curto. Mas as lições são longas.
Que o enredo continue dentro de cada um de nós.

Quero desconstruir o medo. E você?

Rodrigo Rudi.