quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Luzes, ceias e sabores.



A alegria e os preparativos para o Natal estão por toda a parte. Luzes coloridas. Pinheiros enfeitados. E guirlandas anunciando a tão esperada comemoração cristã. Os presépios vão sendo retirados das grandes caixas, empoeiradas, que ocupam parte do guarda-roupa da família. Os olhos do avô são acesos pela ideia do vinho que poderá ocupar a mesa na noite da ceia. Com o valor menor do dólar, os produtos chegam com menos custo aos mercados para a felicidade do povo. 

Não são apenas as luzes exteriores que são acesas. Mas as luzes da alma. Em cada gesto, vejo a esperança ser posta, como árvore, dentro do altar da vida humana - não importando se o ano fora mais ou menos trágico, se a dor tomou as rédeas ou se as feridas armaram acampamento no coração - o que sei é que, nesta época do ano, qualquer força é pequena diante da chama ardente de esperança que dança, em labaredas, na alma de crianças, jovens e adultos. 

O que mais me impressiona, minha gente, é a vida que acende as luzes nos quatro cantos do país. É a vida que renasce, como flor miúda, nos avessos dos ricos e também dos pobres.
Enquanto uma criança sonha com uma casa de boneca, a outra sonha com um lar pra viver. Enquanto um jovem sonha com o seu primeiro voo de jato, o outro sonha em voar rumo ao primeiro emprego, tão batalhado. Enquanto aquele pai de família, empresário, procura inventar algo em que possa gastar o décimo terceiro, o pai de família assalariado reza para sobrar alguns trocados, para assim ter o que partilhar na noite de Natal. Esperança que torna-se eco, em resposta ao grito mais alto que o ser humano possa dar: o grito pela sobrevivência. 

Fico a pensar nas casas envoltas de luzes, de promessas e de mesa farta, mas plena de pessoas apagadas interiormente. Mesa rodeada pela família, mas um abismo de longa distância, quando se trata de presença e de amor. 
Mais vale uma mesa simples a ninar pequenos pedaços de pães, testemunha diária dos encontros definitivos e eternizadores entre marido e mulher, pais e filhos, que o assombroso vazio da mesa sufocada entre bandejas fartas, vinhos importados e toalhas requintadas com fios de ouro, que servem apenas para abrigar estranhos entre si mesmos. 
A mesa pode estar repleta de bons alimentos, mas o melhor sabor está dentro de cada um, à espera de poder ser partilhado em comum acordo. Quando o melhor da família estiver posto à mesa, a família saciada estará.

Luzes acesas na casa e na alma. Sonhos redobrados. Presentes postos ao pé do coração do próximo. Lá, eles terão melhor serventia. 
Mesa farta de perdão, de olhar demorado, do Eterno. Corações-manjedouras à espera da vida que acenderá a luz que não se apaga: Cristo Jesus.

Ter a plena certeza: — 'Devagarinho é que o escuro vai ficando claro', como um dia nos ensinou Guimarães, o Rosa.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Suicídios lentos.

Reprodução: Internet.


Optar pela vida é o melhor projeto. 
Hoje, recebi a triste notícia de um suicídio: uma jovem decidiu por fim a própria vida após uma desilusão amorosa. Cancelou uma vida plena de oportunidades; sonhos que agora se acomodarão na lembrança daqueles que ficaram. 
Não a conhecia. Mas, tristemente, sofri quando meu coração tocou o aceno da fatalidade; a desistência brutal pela vida. 
Diante da necessidade de analisar o fato, eu prefiro evitar o perigo da resposta apressada. Uma tragédia que sugere uma interpretação mais profunda. A morte, ainda que seja de alguém que nunca tenha cruzado o nosso caminho, pode nos acordar. 


A morte da moça, a juventude tão cobiçada, os sonhos ancorados, a tragédia e a corda no pescoço.
A decisão pela morte não é acontecimento súbito. Tenho a plena convicção de que essa jovem começou a desistir da vida no momento em que deixou que a corda engrossasse, diariamente, os próprios gomos, e assim, saísse da mão e se enroscasse ao pescoço; tristezas e fracassos não administrados; ausência de si mesmo ... 
Vivemos diante de cordas invisíveis. Vivemos no meio de homens e mulheres, jovens e adultos que colecionam desistências. Pessoas que vão perdendo o sabor pela vida - e a partir do gosto amargo das dificuldades, são atraídas pelo caminho mais fácil, alimentando a desistência de si, o desprezo, e o sentimento mentiroso a culpá-la de fracassadas. Suicídios lentos e adubados. 
Infelizmente, para a jovem não tem mais jeito. O seu enredo foi selado. Mas para nós ainda é tempo. Tempo de observar as cordas que estão ao alcance de nós, e plenos de esperança, retirá-las, desatá-las. 
Que Deus nos dê a graça de percebermos as cordas invisíveis que estão por todos os lados. Talvez dentro da nossa casa a enroscar, de forma silenciosa, no pescoço daqueles que tanto amamos. 
Não espere pela tragédia. Opte por desativá-la. Esteja atento como guarda de si, e também do outro. Não chegue atrasado na vida de quem você tanto ama. 
Estar ao lado não significa estar presente. Talvez a moça que hoje falecera, tenha morrido solitária numa casa rodeada de pessoas 'atrasadas'. Presenças salvam. 
A morte dessa jovem me fez repensar sobre a vida e valor que ela possui. Me deu a graça de compreender que a melhor saída está na opção pela vida. 
Tristezas e depressões não nasceram para ser colecionadas, mas desativadas. 
Senhor, dai-nos a graça do olhar demorado. Deus da Vida, dai-nos a benção da urgência do amor. 
Como um dia escreveu o poeta: "Corda na mão, não no pescoço." Eis a lição.