Quando o dia insiste em retirar o sossego da minha alma, me refugio na casa da poesia - lugar preferido de Deus nas horas vagas.
Ao sorrir, Ele percebe a minha chegada e, feliz, se esconde nas entrelinhas dos verbos, utilizando-se das onomatopéias para me alarmar de sua presença. Não sei se me encanto com as linhas poéticas ou com o desejo de buscá-lo entre os sentidos que vão nascendo em mim.
Vez em quando ele se finge dormir entre elas. E pisco os olhos bem devagar para não acordá-lo na leitura que faço - um tropeço na vírgula causaria barulho. No entanto, ao me entreter com os versos que passam por mim em forma de vagões, avisto o trem fumegante à apitar sobre uma longa linha construída pelos suspiros do Pequeno.
No apito dos significados, a minha alma acelera e palpita de felicidade: é preciso encontrá-lo. Me pego sorrindo entre as palavras que amortecem as minhas dores, já esquecidas em algum canto daquelas páginas amareladas.
As palavras cochicham, e se exibem entre pontos e vírgulas, salto alto de pura exclamação! Enquanto eu, ao perceber o poema ao fim, reparo que entre as minhas próprias mãos, o pequeno se ajeita junto ao meu peito acelerado e quente, de tamanho amor.
E com os olhos banhados de emoção, cuidadosamente, retiro do seu cabelinho fino, um fiapo de ponto final.
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