quinta-feira, 13 de maio de 2010

Presença necessária.


Era um dia ensolarado, daqueles em que a terra se consome de calor e apenas o sol domina o que consegue alcançar. Poeiras dormem ao chão, sob o silêncio dos pés que se abrigam à sombra das casas com suas prosas diversas.

Em Sicar, o Mestre se aproximara do poço de Jacó. E, fatigado, sentou-se à beira dele.

Entre o sol e pó, a poesia humana de Jesus tecera o poema do descanso e da observância. Ao olhar adiante, percebera uma mulher, que escolhera uma hora solitária do dia para apanhar um pouco de água.

Ao contemplá-la, percebera os panos no corpo e as deformações da alma. Sobre o palco-silêncio daquela hora do dia, desfez leis e revalidou o amor.

Podemos avistar o mundo e não encontrá-lo. Saber que existimos, mas não quem somos.

A partir de um breve diálogo, serviu-se da Ceia das Palavras ben-ditas,para que elas, suficientemente capazes, servissem ao Mestre e assim proclamasse o valor que aquela mulher possuíra.

Entre os acordes do vento, o tecido do tempo e as frestas secas daquela tarde, Ele reafirmara o seu lugar preferido: ao lado daquela terceira margem do Céu, disfarçada em camadas de dores e dissabores, à espera de alguém que ao olhá-la, revelasse: você vale à pena.

A presença sincera cessa a ausência e revela a vida esquecida em algum quarto escuro da nossa alma.

A companhia do Mestre a curou de uma vida povoada de ausências.

Bendito sejas o olhar demorado de Deus sobre a fina poesia do coração humano.

3 comentários:

Anônimo disse...

Sempre um mestre na arte de utilizar as palavras, faz do seu texto um deslumbre para os olhos e o coração! Parabéns pelo blog e já está entre os meus favoritos. Continue sempre assim, tocando outros corações com a simplicidade humana do seu.

Roberta disse...

Que lindo, Rodrigo! Sempre um mestre das palavras, agora em mais um trabalho maravilhoso: o de levar mais fé ao cotidiano das pessoas. Parabéns, que Deus o abençoe!

Adriana disse...

"Bendito sejas o olhar demorado de Deus sobre a fina poesia do coração humano."

Meu amigo, você consegue traduzir a dimensão cristã-humana como poucos. Faz muita falta nossa convivência. Amo você.