Sempre que reflito sobre o amor recordo-me de um dos poemas de Adélia Prado, escritora mineira, católica, e um dos maiores nomes da literatura brasileira - o nome dele é "Casamento".
"Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinho na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil", "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva."
Gosto da leveza de Adélia em revelar o evangelho por meio da poesia. Palavras que anunciam o essencial para que o amor sobreviva. Poema que deveria ser lido em toda cerimônia matrimonial; bodas de prata e até nas bodas de Ouro - acompanhando os casais para que a lição nunca se perca.
Amor que é celebrado à beira da pia, do tanque, à mesa ou no silêncio do beijo ao desejarem bons sonhos. Amor esmiuçado a partir de pequenos gestos que acalentam o mais nobre sentimento.
A ação de Deus não substitui a responsabilidade do casal. Deus faz, mas conta com a vontade de cada um. Deus tece aquilo que não pode ser tecido pelo limite humano. E buscar o outro no milagre do hoje é tarefa que pousa sobre as mãos de quem a deseja.
Quer o casamento restaurado? Coloque em prática esse poema! A multiplicação dos peixes será acrescida de múltiplo sabor.
Amar talvez seja isso: olhar a pessoa amada e reconhecê-la como novidade constante - alguém que renovará o outro a partir de pequenos favores, olhares e delicadezas - gestos que não cabem nas palavras, por serem infinitos.
Há sabores que não moram na comida bem feita, nem na casa limpa e solitária. Sabores ancorados nos detalhes que o outro possui, e que só poderão ser tocados com a nossa fome de sermos, eternamente, noivos e noivas.
2 comentários:
Parece que as mulheres perderam muito daquela doçura que tinham antigamente em nome de uma igualdade falsa com os homens. Não sou machista, sou a favor de direitos iguais, mas mulher e homem devem preservar suas diferenças também. E o homem tem culpa nesse processo, porque oprimiu e fez a mulher escrava e não companheira.
Essa "servidão" conjunta, a vontade de agradar o marido (e o marido à esposa) não pode se perder nos casamentos. Casamento foi feito para ser comunhão, não batalha de quem manda mais em casa.
OLa Rodrigo, vi sua postagem no meu blog, só não tem encontrei no orkut do Erickson. Se me achar lá acho melhor, rs.. Abraços
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