quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Luzes, ceias e sabores.



A alegria e os preparativos para o Natal estão por toda a parte. Luzes coloridas. Pinheiros enfeitados. E guirlandas anunciando a tão esperada comemoração cristã. Os presépios vão sendo retirados das grandes caixas, empoeiradas, que ocupam parte do guarda-roupa da família. Os olhos do avô são acesos pela ideia do vinho que poderá ocupar a mesa na noite da ceia. Com o valor menor do dólar, os produtos chegam com menos custo aos mercados para a felicidade do povo. 

Não são apenas as luzes exteriores que são acesas. Mas as luzes da alma. Em cada gesto, vejo a esperança ser posta, como árvore, dentro do altar da vida humana - não importando se o ano fora mais ou menos trágico, se a dor tomou as rédeas ou se as feridas armaram acampamento no coração - o que sei é que, nesta época do ano, qualquer força é pequena diante da chama ardente de esperança que dança, em labaredas, na alma de crianças, jovens e adultos. 

O que mais me impressiona, minha gente, é a vida que acende as luzes nos quatro cantos do país. É a vida que renasce, como flor miúda, nos avessos dos ricos e também dos pobres.
Enquanto uma criança sonha com uma casa de boneca, a outra sonha com um lar pra viver. Enquanto um jovem sonha com o seu primeiro voo de jato, o outro sonha em voar rumo ao primeiro emprego, tão batalhado. Enquanto aquele pai de família, empresário, procura inventar algo em que possa gastar o décimo terceiro, o pai de família assalariado reza para sobrar alguns trocados, para assim ter o que partilhar na noite de Natal. Esperança que torna-se eco, em resposta ao grito mais alto que o ser humano possa dar: o grito pela sobrevivência. 

Fico a pensar nas casas envoltas de luzes, de promessas e de mesa farta, mas plena de pessoas apagadas interiormente. Mesa rodeada pela família, mas um abismo de longa distância, quando se trata de presença e de amor. 
Mais vale uma mesa simples a ninar pequenos pedaços de pães, testemunha diária dos encontros definitivos e eternizadores entre marido e mulher, pais e filhos, que o assombroso vazio da mesa sufocada entre bandejas fartas, vinhos importados e toalhas requintadas com fios de ouro, que servem apenas para abrigar estranhos entre si mesmos. 
A mesa pode estar repleta de bons alimentos, mas o melhor sabor está dentro de cada um, à espera de poder ser partilhado em comum acordo. Quando o melhor da família estiver posto à mesa, a família saciada estará.

Luzes acesas na casa e na alma. Sonhos redobrados. Presentes postos ao pé do coração do próximo. Lá, eles terão melhor serventia. 
Mesa farta de perdão, de olhar demorado, do Eterno. Corações-manjedouras à espera da vida que acenderá a luz que não se apaga: Cristo Jesus.

Ter a plena certeza: — 'Devagarinho é que o escuro vai ficando claro', como um dia nos ensinou Guimarães, o Rosa.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Suicídios lentos.

Reprodução: Internet.


Optar pela vida é o melhor projeto. 
Hoje, recebi a triste notícia de um suicídio: uma jovem decidiu por fim a própria vida após uma desilusão amorosa. Cancelou uma vida plena de oportunidades; sonhos que agora se acomodarão na lembrança daqueles que ficaram. 
Não a conhecia. Mas, tristemente, sofri quando meu coração tocou o aceno da fatalidade; a desistência brutal pela vida. 
Diante da necessidade de analisar o fato, eu prefiro evitar o perigo da resposta apressada. Uma tragédia que sugere uma interpretação mais profunda. A morte, ainda que seja de alguém que nunca tenha cruzado o nosso caminho, pode nos acordar. 


A morte da moça, a juventude tão cobiçada, os sonhos ancorados, a tragédia e a corda no pescoço.
A decisão pela morte não é acontecimento súbito. Tenho a plena convicção de que essa jovem começou a desistir da vida no momento em que deixou que a corda engrossasse, diariamente, os próprios gomos, e assim, saísse da mão e se enroscasse ao pescoço; tristezas e fracassos não administrados; ausência de si mesmo ... 
Vivemos diante de cordas invisíveis. Vivemos no meio de homens e mulheres, jovens e adultos que colecionam desistências. Pessoas que vão perdendo o sabor pela vida - e a partir do gosto amargo das dificuldades, são atraídas pelo caminho mais fácil, alimentando a desistência de si, o desprezo, e o sentimento mentiroso a culpá-la de fracassadas. Suicídios lentos e adubados. 
Infelizmente, para a jovem não tem mais jeito. O seu enredo foi selado. Mas para nós ainda é tempo. Tempo de observar as cordas que estão ao alcance de nós, e plenos de esperança, retirá-las, desatá-las. 
Que Deus nos dê a graça de percebermos as cordas invisíveis que estão por todos os lados. Talvez dentro da nossa casa a enroscar, de forma silenciosa, no pescoço daqueles que tanto amamos. 
Não espere pela tragédia. Opte por desativá-la. Esteja atento como guarda de si, e também do outro. Não chegue atrasado na vida de quem você tanto ama. 
Estar ao lado não significa estar presente. Talvez a moça que hoje falecera, tenha morrido solitária numa casa rodeada de pessoas 'atrasadas'. Presenças salvam. 
A morte dessa jovem me fez repensar sobre a vida e valor que ela possui. Me deu a graça de compreender que a melhor saída está na opção pela vida. 
Tristezas e depressões não nasceram para ser colecionadas, mas desativadas. 
Senhor, dai-nos a graça do olhar demorado. Deus da Vida, dai-nos a benção da urgência do amor. 
Como um dia escreveu o poeta: "Corda na mão, não no pescoço." Eis a lição. 

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Deus cuida até no silêncio.


Quando estamos vivendo dentro de um grande sofrimento, seja ele qual for, logo pensamos em Deus, que é Pai. É uma das formas que encontramos para sentir alívio e, diretamente, auxílio para o fim do que nos faz sofrer.

Como filhos, ainda que rebeldes, corremos para os braços de Deus, como uma criança corre para os braços de sua mãe. Depois da queda, do joelho arranhado, o abraço de mãe cura, aconchega, acalenta. O desespero, antes aceso pela visão da ferida, apaga-se quando a visão encontra, de forma sublime, as luzes a irradiarem-se dos braços estendidos daquela que o gerou.

E no plano espiritual? Não vemos Deus, mas podemos senti-lo. E, teoricamente, é um desafio acreditar naquilo que não pode ser 'visto' a olho nu. Pensar em Deus é um primeiro ato, mas repensá-lo, confiá-lo à nossa dor, pode ser uma tarefa árdua. Somente pelos olhos da fé, definitivamente, pode-se experienciar tal consolo.

Vez em quando, o silêncio de Deus causa desassossego naqueles que esperam por consolo e cura. A pergunta é: - Por que Deus não me socorre?
A resposta pode ser: - Por que você olha depressa demais?

No lugar do desespero, onde faltara vinho naquela festa de casamento, nas bodas de Caná, Maria, a mãe de Jesus, olhou demoradamente para o Filho, antes de promulgar em palavras, o que Ele percebera quando ela o fitou.

Silenciar o coração. Ter os olhos fitos Nele, e o coração atento aos acontecimentos do dia a dia são tarefas que cabem àquele que espera por auxílio. 'Senhor, que eu veja.'

Rodrigo .

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Você pode ser feliz.


A primavera é uma lição bonita de que a vida pode dar certo, ainda que tenhamos passado por dias frios e tenebrosos.

Jesus, o Filho de Deus, passou por grandes provas, sofrimentos, dores que povoaram a sua caminhada, mas fora capaz, de mesmo sendo Deus, se compadecer na condição humana e, assim, esperar o tempo da vitória.

Ainda que a vida seja difícil, ela é o grande bem supremo. Ainda que a dor seja aguda, as estações da vida são mais fortes. Não existe cruz que não aponte para o Céu.

As flores precisam respeitar o tempo. São obedientes ao vento. E, no tempo certo, florescem, revigoram-se e, copiosamente, nos mostram tamanha beleza.

Que a primavera nos ensine: a refletir a beleza que é possível ser contemplada, quando há uma espera perseverante. Cristão sofre, mas não desanima. Cristão ama, espera, confia, trabalha.

Senhor, dai-nos a graça da espera e nos ensine a servir com amor.
Hoje, quem mais precisa ser "primaverado" por você? É tempo das flores. É tempo de confirmamos a nossa vocação para o Amor.

Deus cuida de nós.
Que seja assim.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Ser cristão é ser dinâmico.


Uma vida bem vivida é o sonho de Deus para nós. É o Evangelho colocado em prática. É a lei do amor sendo praticada.

Gosto, particularmente, de um texto da escritora Marina Colasanti, que é uma "pregação" real do valor que a vida possui.

Eu sei, mas não devia
Por: Marina Colasanti.

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

domingo, 5 de setembro de 2010

O que você precisa desconstruir?


"Uns aprendem a andar. Outros aprendem a cair. Conforme o chão de um é feito para o futuro e o do outro é rabiscado para sobrevivência." Mia Couto

O que temos aprendido? Quais são os sentimentos que precisam ser desconstruídos na alma?

O texto é curto. Mas as lições são longas.
Que o enredo continue dentro de cada um de nós.

Quero desconstruir o medo. E você?

Rodrigo Rudi.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Fé invernada.


As estações da vida acompanham os seres vivos no processo de sobrevivência. Nós, seres humanos, temos a tarefa árdua de trabalharmos para que a vida seja concretizada no possível que nos cabe.

Gosto de pensar nas formigas. Trabalham, cortam suas folhas, se organizam e recolhem alimentos para o sustento numa estação vindoura, não tão favorável para o trabalho como o inverno, devido ao frio e os riscos que ela pode trazer à sua espécie.

Deveríamos usar desse exemplo – rompendo o comodismo e preparando nas estações favoráveis da nossa vida, o que nos sustentaríamos num tempo de frio e recolhimento. O sofrimento é como o inverno; estação que exige recolhimento para se meditar sobre o processo da dor, e a partir dele, se alimentar do que colhemos das estações felizes.

Hoje, corremos o grande risco de não trabalharmos o ‘essencial’ e, dessa maneira, perdermos a oportunidade de estarmos com o estoque da ‘alma’ repleto para os tempos difíceis.

Ser cristão nos tempos favoráveis é tarefa fácil. O desafio, minha gente, é ser cristão no momento da dor e, permanecer em pé, como fez Maria aos pés da cruz, mesmo quando parecer que tudo está perdido.

O comodismo que nos cerca, pode nos custar caro amanhã.
Recolha a tua água. Deixe os barris repletos até a boca. Para que nos tempos ‘invernais’, você possa ter fé suficiente para Deus cuidar de você e ensiná-lo a viver o inverno do sofrimento.

O que você anda guardando é suficiente para sustentá-lo no inesperado da dor?

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Vocação: um desafio de amor.


Li, recente, o livro “O filho eterno” de Cristóvão Tezza – um dos maiores escritores contemporâneos – no qual me senti motivado a partilhar com você, caro leitor, algumas indagações louváveis sobre a arte de viver/o desafio de sobrevivência por via da ótica da “imperfeição” versus “liberdade. Afinal, o que é ser livre? O que é a liberdade?

O romance é narrado sobre a história, em meados dos anos 70, de um pai que recebe a notícia de que o seu primeiro filho – tão desejado pelo casal – é portador de “mongolismo”. A chamada: “síndrome de down”. Para o pai a decepção. O desejo de recusa. A morte como solução e alívio para tal “ameaça”. Um homem diante da brutal realidade que o cerca; palco teatral que ressuscitará todas as perguntas possíveis; o reacender do confronto entre a “normalidade” e a “anormalidade”. O novo. A liberdade sendo medida em amplo sentido. A história comovente de um pai que precisará redescobrir a própria vida e a sua “nova” identidade, a partir do filho que chegara.

Li o livro em menos de 2 dias. Confesso que o título me conquistara com o seu poder de infinitude. Afinal, sempre tive desagrado por coisas definitivas. Nietzsche, um dos grandes filósofos já ensinara: “Não existe uma única verdade.” É um assunto digno. Uma frase amplamente contextualizada que renderia inúmeros artigos nessa coluna. No entanto, me utilizo desse curto espaço para deixar registrados alguns conceitos plausíveis do valor da eternidade, do novo que nos desconcerta e do desafio constante que é ser humano.

Como pode alguém que deseja a morte do filho, substantivá-lo mais tarde como “O filho eterno”? Lendo e relendo os belíssimos parágrafos desse romance, salpicado por momentos de retrocesso, renúncias, fúrias, mas também de feedback e lapidação humana, me peguei a pensar no conformismo banal que alimenta nosso “aparente sossego” quando vivemos uma rotina familiar sem aparente desafio. “Desafio? Para quê? Estamos tão bem e não queremos problemas...”
O novo assusta. Sendo ele bom ou ruim. Quando é bom, a digestão é fácil – questão de surpresa e algumas horas – e pronto, mais um “bem” agregado à família. Porém, quando o novo é algo “ruim”, usaria aquele ditado antigo: “A casa cai”. A resposta em “eliminar” tal problema, para o pai do romance, fora a idéia da predileção à morte do filho que acabara de nascer. A nossa resposta talvez não seja tão diferente: eliminação. Como se fosse uma palavra mágica que ao penetrar nos ouvidos trouxesse um ar de alívio momentâneo.

Cresci ouvindo o ditado: “A cruz que temos de carregar, não pode ser colocada na porta de outro”. E, inevitavelmente, me pergunto: cruz ou redenção?

Lendo “O filho eterno” fiz a mesma pergunta em vários momentos - plena redenção. Mas confesso: o título já é uma grande pista para quem deseja saborear parte de uma verdade, entre tantas necessárias lá contidas, capazes de fazer-nos livres para o bem e para o amor.

* Texto extraído da Revista 'Construtores do Reino' Vila Maria - São Paulo. Coluna: 'Deus e você'. Edição 96.
Rodrigo Rudi.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Jesus, filho de Davi.



No Coração de Deus é o seu lugar.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

RCC privatizada?


"Servir" deveria ser o verbo regente da vida humana. O que vemos é a atuação constante do "possuir". É lamentável. Cada vez mais, vejo o modelo de comunidade dos Atos dos Apóstolos sendo distanciado das realidades de nossas comunidades.

Leigos que querem status, poder, domínio. Esqueceram que o Reino de Deus tem predileção no servir e na partilha. São pessoas que se corrompem com testemunho sujo e abominável. Deus não precisa de patrões, a comunidade precisa de servos.

A comunidade família, a comunidade igreja, a comunidade social ... lugares oportunos que Deus criou a fim de que o amor seja instaurado. Não existe milagre mais bonito do que esta sábia consciência.

No entanto, a sujeira é tão grande que até chega a se organizar em cúpulas. Existe sempre o grupo que comanda. Depois, o grupo que é subordinado. E ai daquele que se sentir "injustiçado". Será logo cortado por "atrapalhar" a ordem da tribo.

Relendo o belíssimo Documento de Aparecida, Texto Conclusivo da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, realizado em maio de 2007, na ocasião da visita do Santo Padre, o Papa Bento XVI, encontro pistas para tal reflexão; caminhos necessários para um tempo novo no servir.

No parágrafo 370, está escrito: "A conversão pastoral de nossas comunidades exige que se vá além de uma pastoral de mera conservação para uma pastoral decididamente missionária." Este trecho é apenas 1% de uma imensa riqueza existente para nós. Instruções que deveriam ser acolhidas no coração de tantos "leigos e leigas" que insistem em achar que são cárceres do Divino Poder.
Cristão que não entendeu a mística do serviço, não produz frutos de paz.

Vivo e já vivi experiências estupendas em comunidade, mas confesso que as desprezíveis foram as que causaram grande reflexão em mim. E eis algumas perguntas ficaram no ar ...

Por que são, quase sempre, os mesmos pregadores nos encontros de formação da RCC?
Por que as "revelações" do Espírito Santo estão sempre voltadas para um determinado público alvo?
Temos uma "equipe de serviço" ou uma "equipe de patrões"?
Ou os ministérios estão sendo privatizados e eu não sabia?

Gostaria muito que os jovens que passam anos lavando banheiros - não que seja um trabalho desnecessário - tivessem oportunidades para pregar, ministrar e contribuírem para com a evangelização a partir dos dons que possuem.

Nunca vi coordenadores lavando banheiro. Se existem, ótimo, são a minoria. Continuem assim.
Se no Reino todos são iguais, a oportunidade deveria ser regra de convivência.

Numa certa ocasião, fui convidado pelo ex-coordenador Diocesano da RCC, Ricardo, a ocupar o serviço da secretaria Marcos de uma cidade X. Fiquei lisonjeado com o convite e, assim, colocaria em prática a primeira máxima que sustenta a comunidade do povo de Deus: a igualdade. Seria um sonho realizado, a partir do princípio evangélico, vê-los além de bancos e banheiros; vê-los como pregadores, animadores, jovens missionários. Mas nem cheguei a ocupar o ministério e fui perseguido ...

Que o exemplo da Comunidade dos Atos dos Apóstolos esteja além do admirável, mas sobretudo, a partir dos nossos gestos libertários.

O Espírito Santo clama por vez e voz. E, mesmo consciente de que toda formação seja necessária para o crescimento, ainda reafirmo que o Pai do Céu não é atraído por diplomas, mas por corações generosos.

Que a RCC, e tantos outros movimentos, sejam respeitados em sua origem, que é o serviço e o amor.
A igreja será muito mais rica, plena, e missionária quando o clamor do Espírito de Deus for entoado pela boca dos que nunca tiveram vez - campo fértil por onde Deus pode fazer florescer um novo tempo.

Irmãos,
Lugar de cristão é na mesa. Não em panelas!


segunda-feira, 12 de julho de 2010

Entardecimentos.



Vez em quando as tardes entardecidas me amanhecem. Frase que brotou de forma límpida no meu pensamento. Saiu rápida, sem causar nenhum sentimento de repressão. Quando ela pousou diante de mim, fiquei a pensar sobre tal verdade.

Por que "entardecer" pode revelar apenas o sentido de "perda"? Fico a pensar nas inúmeras vezes que perder alguém ou alguma coisa em nossa vida, passa a ser questão de finalização. Ou até motivo para um sentimento de fracasso perpétuo.

Perdas podem ser ganhos. Finalizações podem ser recomeços.
Tardes entardecidas se renovam e voltam acesas ao meio dia.

Não sei o que é sinônimo de finalização em você. Talvez a sua fé na vida por ter sofrido as perdas que a vida lhe impôs.
O que trago é a certeza de constantes esperas necessárias.
Dores podem ensinar. Perdas também.
Que sejamos capazes de enfrentar os entardecimentos como passagens para o novo que virá.


Rodrigo .

terça-feira, 6 de julho de 2010

Vazios que ensinam.



Não pense que o vazio que sentimos seja a ausência de Deus. O desejo contido nesse "vazio", é a vontade infinita de estarmos em Deus. Que seja assim.


"Eu acho que Deus é uma projeção humana. É um desejo infinito que nós
temos de adoração, e de algo que nos suspende com o sentido absoluto.
Nós somos finitos e relativos, e queremos sempre uma coisa absoluta: que
esse café maravilhoso não acabe, que a minha paixão não acabe, que essa
casa bonita permaneça. A gente tem sede de infinito e de permanência.
Então, esse ser que assegura a permanência das coisas,
é que eu chamo de Deus. É o absoluto."


Adélia Prado


quinta-feira, 24 de junho de 2010

E Deus ataca bonito.


“Deus vem vindo: ninguém não vê. Ele faz é na lei do manso – assim é o milagre. E Deus ataca bonito, se divertindo, se economiza.” Guimarães Rosa

O Criador, Deus Trino, adentra o campo da nossa vida sendo: jogador, juiz e treinador. No cotidiano, já bem treinado, dribla a nossa falta de fé. Cada passo é certeiro. Não há chuva, nem sol, que impeçam os passos mansos de Deus na grande área que é o nosso coração.


Bom jogador é aquele que planeja em silêncio o ataque. Com Deus é parecido. Ele vem, disfarçado e sem causar alarde, veste a nossa camisa, e até vira juiz lançando cartão amarelo diante da ansiedade que demonstramos no primeiro tempo, fruto das dores que colecionamos. Dor não se coleciona, se enfrenta.


O jogo anda pesado demais. Os adversários são cruéis. E o juiz apita - É hora do intervalo. A tarefa que lhe cabe é a disponibilidade constante para sarar as feridas do corpo e da alma. Momento de entrar para dentro de si e lá, no vestiário da alma, olhar a essência forte que um dia, Deus, esquecera em nós. A vida não para. Nem Ele a nos amar.


O segundo tempo começa: lá vem Deus de novo, ágil, esperto, e em pé à beira do campo. Agora como treinador.

Entre um drible e outro avançamos sob o seu grito a nos encorajarmos. Movidos por tal amor, chutamos e é gooooooooooooooooooool.


E Deus vibra, torce, sorri aos nos ver erguidos. E donos dos gols mais estupendos!

Deus se diverte, sua a camisa... mas as vuvuzelas ficam por conta dos anjos.

Eles são Phd´s em trombetas.


quarta-feira, 19 de maio de 2010

Amor e sabor.


Sempre que reflito sobre o amor recordo-me de um dos poemas de Adélia Prado, escritora mineira, católica, e um dos maiores nomes da literatura brasileira - o nome dele é "Casamento".

"Há mulheres que dizem: Meu marido, se quiser pescar, pesque, mas que limpe os peixes. Eu não. A qualquer hora da noite me levanto, ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar. É tão bom, só a gente sozinho na cozinha, de vez em quando os cotovelos se esbarram, ele fala coisas como "este foi difícil", "prateou no ar dando rabanadas" e faz o gesto com a mão. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez atravessa a cozinha como um rio profundo. Por fim, os peixes na travessa, vamos dormir. Coisas prateadas espocam: somos noivo e noiva."

Gosto da leveza de Adélia em revelar o evangelho por meio da poesia. Palavras que anunciam o essencial para que o amor sobreviva. Poema que deveria ser lido em toda cerimônia matrimonial; bodas de prata e até nas bodas de Ouro - acompanhando os casais para que a lição nunca se perca.

Amor que é celebrado à beira da pia, do tanque, à mesa ou no silêncio do beijo ao desejarem bons sonhos. Amor esmiuçado a partir de pequenos gestos que acalentam o mais nobre sentimento.

A ação de Deus não substitui a responsabilidade do casal. Deus faz, mas conta com a vontade de cada um. Deus tece aquilo que não pode ser tecido pelo limite humano. E buscar o outro no milagre do hoje é tarefa que pousa sobre as mãos de quem a deseja.

Quer o casamento restaurado? Coloque em prática esse poema! A multiplicação dos peixes será acrescida de múltiplo sabor.

Amar talvez seja isso: olhar a pessoa amada e reconhecê-la como novidade constante - alguém que renovará o outro a partir de pequenos favores, olhares e delicadezas - gestos que não cabem nas palavras, por serem infinitos.

Há sabores que não moram na comida bem feita, nem na casa limpa e solitária. Sabores ancorados nos detalhes que o outro possui, e que só poderão ser tocados com a nossa fome de sermos, eternamente, noivos e noivas.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

Deus é poesia.


Quando o dia insiste em retirar o sossego da minha alma, me refugio na casa da poesia - lugar preferido de Deus nas horas vagas.

Ao sorrir, Ele percebe a minha chegada e, feliz, se esconde nas entrelinhas dos verbos, utilizando-se das onomatopéias para me alarmar de sua presença. Não sei se me encanto com as linhas poéticas ou com o desejo de buscá-lo entre os sentidos que vão nascendo em mim.

Vez em quando ele se finge dormir entre elas. E pisco os olhos bem devagar para não acordá-lo na leitura que faço - um tropeço na vírgula causaria barulho. No entanto, ao me entreter com os versos que passam por mim em forma de vagões, avisto o trem fumegante à apitar sobre uma longa linha construída pelos suspiros do Pequeno.

No apito dos significados, a minha alma acelera e palpita de felicidade: é preciso encontrá-lo. Me pego sorrindo entre as palavras que amortecem as minhas dores, já esquecidas em algum canto daquelas páginas amareladas.
As palavras cochicham, e se exibem entre pontos e vírgulas, salto alto de pura exclamação! Enquanto eu, ao perceber o poema ao fim, reparo que entre as minhas próprias mãos, o pequeno se ajeita junto ao meu peito acelerado e quente, de tamanho amor.

E com os olhos banhados de emoção, cuidadosamente, retiro do seu cabelinho fino, um fiapo de ponto final.

domingo, 16 de maio de 2010

Perdas.

Todas as estações do ano nos ensinam. Mas o outono é doutor em perdas e preparações. O sofrimento presente na vida humana se esbarra na casa da perda necessária. Conviver é perder.


Fé que não se renova, morre. Vida que não abriga o essencial hospedará: supérfluos e ilusões.


No verão, as árvores são preparadas para a próxima estação. Querendo ou não, elas são inseridas no mistério da natureza para sobreviverem e, assim, cumprirem com naturalidade a tarefa de perder o que já não mais a pertence.


Folhas que se vão para darem lugar às novas que brotarão - Jesus precisou dar a própria vida para que o plano do Pai fosse instaurado - Ele, de certa forma, também precisou desfazer do que possuíra para ganhar e fazer-nos vencedores. A perda de hoje, aponta para o ganho de amanhã.


Você pode me indagar: - "O que ganho com a morte de alguém estimado?" As respostas são inúmeras, não ousaria definí-las em propostas mansas. Mas adiantaria: a valorização da vida e da presença do outro, seriam as primeiras jóias a receberem uma nova lapidação dentro de você.


Grandes perdas nos oferecem ganhos múltiplos. Lições que nos farão melhores.


Não encare o vazio como possibilidade de ausência. O poeta Manoel de Barros já ensinara: ausência e vazios são fontes de enriquecimento.

"A mãe reparou que o menino

gostava mais do vazio do que do cheio.

Falava que os vazios são maiores

e até infinitos."


O outono é um caderno aberto à espera da nossa lição diária.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

O silêncio e o milagre.


A vida é feita de palavras, mas também de silêncio. Quem fala muito, corre o risco de perder o ensinamento que, às vezes, se abriga nas frestas do tempo.

Reclamam de Deus, da ausência de sua voz e, em meio a lamentações vão procurá-lo em outros lugares. São pessoas que não compreenderam o cristianismo como sendo, a religião do silêncio necessário, e posteriormente como: pura graça de entendimento e visita.

Maria, a mãe de Jesus, amava-o e o acompanhava com o olhar. Ainda que o Filho estivesse à beira do praia, do mar ou entre os doutores da lei - bastava Jesus identificá-la no meio da multidão, para sentir-se amado e acompanhado.

A resposta é hóspede do silêncio.

Vivemos numa era em que a resposta precisa vir rápida, concisa e satisfatóriamente saciável. O mundo é assim, mas a fé não. Os templos deixaram de ser a casa de oração, silêncio e contemplação, para serem postos de troca - levo a lista do que preciso, e saio com os dias e horários para recebê-los. Depois, saem por aí, testemunhado aquilo que é visível e perece. Alma pequena, que se contenta com pequenos favores. É um deus projetado como uma máquina de coca-cola: coloco a moeda e a latinha cai.

Não medimos a nossa fé, a partir do que recebemos, mas do amor que nos alcança.

Deus se utiliza dos grandes poetas para ensinar a mais bela teologia:

"A vida de um ser humano, é impossível. O que vemos, é apenas milagre; salvo melhor raciocínio." Guimarães, o Rosa.

Se existe o silêncio, é porque o milagre já fora dado. E, enxergá-lo em meio a tanto barulho, pode ser impossível.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Presença necessária.


Era um dia ensolarado, daqueles em que a terra se consome de calor e apenas o sol domina o que consegue alcançar. Poeiras dormem ao chão, sob o silêncio dos pés que se abrigam à sombra das casas com suas prosas diversas.

Em Sicar, o Mestre se aproximara do poço de Jacó. E, fatigado, sentou-se à beira dele.

Entre o sol e pó, a poesia humana de Jesus tecera o poema do descanso e da observância. Ao olhar adiante, percebera uma mulher, que escolhera uma hora solitária do dia para apanhar um pouco de água.

Ao contemplá-la, percebera os panos no corpo e as deformações da alma. Sobre o palco-silêncio daquela hora do dia, desfez leis e revalidou o amor.

Podemos avistar o mundo e não encontrá-lo. Saber que existimos, mas não quem somos.

A partir de um breve diálogo, serviu-se da Ceia das Palavras ben-ditas,para que elas, suficientemente capazes, servissem ao Mestre e assim proclamasse o valor que aquela mulher possuíra.

Entre os acordes do vento, o tecido do tempo e as frestas secas daquela tarde, Ele reafirmara o seu lugar preferido: ao lado daquela terceira margem do Céu, disfarçada em camadas de dores e dissabores, à espera de alguém que ao olhá-la, revelasse: você vale à pena.

A presença sincera cessa a ausência e revela a vida esquecida em algum quarto escuro da nossa alma.

A companhia do Mestre a curou de uma vida povoada de ausências.

Bendito sejas o olhar demorado de Deus sobre a fina poesia do coração humano.

Lançamento!

O Blogaço lança 'Deus comigo', mais um blog de evangelização do portal catolicaco.com no comando de Rodrigo Rudi, professor e escritor, de Volta Redonda-RJ que trará Deus até você. Bem-vindo!